segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Filhos de pemba

Tenho pensado muito no que é (ou deve ser) um "filho de pemba" (aquele que se diz praticante de uma religião de matrizes afro-brasileira). E em minhas reflexões tenho chegado a algumas conclusões - que incluem, inclusive, um mea culpa em muitos momentos.
Um terreiro não se faz somente com um dirigente espiritual. Uma casa não se mantém limpa e organizada, após as funções, somente quando os zeladores as limpam. É bem verdade que algumas coisas da organização competem somente a eles. Mas limpeza, preparo, observância a coisas que faltam para uma "gira" perfeita é responsabilidade de todos.
Ser médium é mais do que chegar na hora da sessão, "receber" santo e ir embora. Ser médium é ser solícito e ser o primeiro a se oferecer a ajudar. Ser médium é ter a humildade de saber que não sabe de tudo e tem muito a aprender ainda. 
Ser médium é respeitar as regras da casa que frequenta, é demonstrar reverência ao congá.
Ser médium, mais do que colocar roupa branca, é demonstrar a alma vestida de pureza. Ser filho de pemba é participar de todas as atividades da casa, sejam elas espirituais, como ordinárias. É interessar-se em aprender a cantar os pontos, é ter orgulho em saber cambonar. Pertencer a uma casa de axé é antecipar-se às solicitações dos "pais" e "mães" de santo. É também se sentir responsável pelo templo que lhe dá a oportunidade de desenvolver a sua espiritualidade.
Um terreiro (pelo menos os de umbanda) não é local de auferir lucros, mas uma casa não se mantém sem gastos. Mais do que uma mensalidade, as despesas, certamente, vão além do arrecadado nas contribuições mensais. 
Enfim, um filho de pemba luta suas lutas pessoais, mas ao mesmo tempo, converte-se em um soldado da "sua casa de fé". Todos devem entender que todos têm problemas e compromissos na "vida mundana", entretanto, se estes fatos são mais prioritários que os da "vida do terreiro" é melhor repensar se é o momento de ser chamado de FILHO DE PEMBA.