segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Bem ouvir, bem falar e bem olhar

 Ainda que tenhamos tantos despreparados e/ou desinformados, vemos surgir, desde o final do século passado, um interesse grande por nossa amada religião de Umbanda. Tenho, na medida do possível, acompanhado os eventos relacionados às religiões de matrizes africanas e vejo, com excelentes olhos, como, pouco a pouco, vamos angariando mais admiradores (ou pelo menos, mais pessoas tendo a oportunidade de aprender sobre nossas práticas, fundamentos e preceitos).
São palestras, lançamentos de livros, peças teatrais, eventos públicos e o mais variado tipo de divulgação.
Ontem, por exemplo, fui assistir “Exu – a luz no caminho”, com a Companhia Teatral Meraki. Tema difícil e denso, ao mesmo tempo que fascinante e profundo que nos faz vibrar na alma a exaltação da vida! São iniciativas como estas que buscam desmitificar o “pré-conceito” do peso que a História jogou em nossas costas com relação não só à “Esquerda” como a todas as manifestações espirituais vinculadas aos Orixás e Entidades de Luz que trabalham nas Tendas e Terreiros.
Permitam-me um jogo de imagens para prosseguir com minhas reflexões. Todos conhecemos os famosos três macaquinhos, não é mesmo? Então: com relação a tudo que estou dizendo, persistem ainda os que abrem a boca (macaquinho 1) para falar sobre o que desconhecem, tudo isso porque ouviram dizer (macaquinho 2), sem pelo menos tentar abrir os olhos (macaquinho 3) para conhecer.
Quem de nós nunca ouviu um irmão da caminhada falando impropérios sobre a religião, sem ao menos ter certeza do que fala? Sem contar com os radicais – estes nem mencionamos – que tão obtusos são incapazes de compreender qualquer coisa para além do seu “mundinho”!
Outro dia, pasmem, duas pessoas conversavam. Uma era umbandista e a outra era neopentecostal. O diálogo se tornou surreal (ou superreal) quando o umbandista mostrava para a pessoa que professa a fé através da Escritura Sagrada coisas que ela desconhecia do único documento que, teoricamente, tinha que conhecer: a Bíblia.

Sendo assim, nossa missão está no terreiro sim. Nosso aprendizado está no convívio e contato com os entes de luz que nos brindam com suas vibrações e seus ensinamentos. Nossa fé cresce pela prática e dedicação. Entretanto, não devemos nos esquecer de que também é nossa tarefa difundir com conhecimentos e fundamentos a nossa religião. Outros que ignoram ou desconhecem só poderão tecer opiniões diante do que lhes é passado. Se vemos, inclusive, dentro de casas de nossas coirmãs (e dentro de nossos terreiros de Umbanda mesmo), divergências e polêmicas que geram brigas e intrigas, como podemos exigir que os demais nos respeitem? Pensemos nisto quando começarmos a criar problemas ou apresentar embates. Façamos a nossa parte, deixemos que a vida se torne mais leve e livremo-nos do mal que corrói a alma. Nossa voz se perpetuará no ritmo dos atabaques, na ginga dos versos dos pontos e na Força de nossos Orixás. Saravá, Umbanda, saravá!