Demorei
um pouco para trazer esta reflexão aqui. Muito provavelmente, devido
ao meu tempo de maturação quando as ideias se mexem e remexem
minhas emoções.
Logo
assim que terminaram os “dias de Momo”, vi, em diversos grupos
dos quais faço parte nas redes sociais, discussões (às vezes muito
acirradas, beirando às ofensas) a respeito da quaresma na Umbanda.
As
perguntas, variando em poucas estruturas, tinham o intuito de saber a
opinião das pessoas sobre o que achavam de os terreiros respeitarem
o período.
Como
disse, li diversas considerações no mais amplo espectro de visões.
Foi a partir dessas leituras que comecei meus questionamentos:
1-
Todo ano a mesma história, a mesma pergunta.
2-
Qual o objetivo de levantar essas discussões?
3-
O que muda na prática e na crença da religião as divergências dos
procedimento?
4-
Há UMA lei que determine seguir ou não o calendário cristão?
Minha
vontade, e não passou de vontade para não engrossar as fileiras das
dissensões, foi a de responder à pergunta da seguinte maneira: “Se
o seu terreiro suspende atividades durante a quaresma e você está
feliz com isso, ótimo! Se o seu terreiro entende que não deve
seguir essa prática e acha que deve funcionar da mesma maneira como
nos demais meses do ano e você está feliz com isso, que bom para
você! Em poucas palavras, seja feliz com aquilo que acredita e
pratica!”
E
antes que as voltas dos pensamentos cheguem à interrogação “E
você, o que acha?”, apresento algumas ponderações pessoais.
Não
é uma novidade para nenhum de nós que a Umbanda tem em suas raízes
(com maior ou menor influência) muitos fundamentos e tradições das
culturas indígena, africana e católica (por somente citar três).
São as giras de caboclos, o culto aos Orixás, e, em muitas casas,
os altares – congás – com imagens católicas que comprovam essas
bases das expressões culturais que nos formam. Quantos umbandistas,
quando em momentos de aflição e dúvidas, não lançam mão de seus
pedidos aos santos católicos (e não no sentido sincrético da
questão). Quantos adeptos da religião levam seus filhos para serem
batizados na Igreja, realizam suas cerimônias de casamentos ou
mandam rezar missas de 7º dia de falecimento de um ente querido?
Cabem
duas perguntas (retóricas tão somente): Para algumas coisas, seguem
os rituais e os procedimentos católicos e para outro não? É uma
questão de conveniência?
Por
outro lado, pensemos sobre a suspensão das atividades de um terreiro
na quaresma levando em consideração as próprias religiões que tem
em seu calendário este evento.
As
igrejas deixam de funcionar ou deixam de realizar seus ritos
completamente? Já pararam para pensar sobre o que a igreja faz ou
deixa de fazer durante o período entre a Quarta-feira de cinzas e o
Domingo de Páscoa? E os motivos e justificativas para isso?
Sei
que não respondi diretamente o que alguns gostariam de ler/ouvir
sobre o que acho do tema.
O
que realmente sei é que antes de começar uma batalha de imposições
e tentativas de afastar ou aproximar a Umbanda de tal ou qual matriz,
devemos lembrar que nossa amada religião é plural, como plural é o
berço pátrio onde ela nasceu. Uma religião que abraça e acolhe,
respeita e entende a todos os que cruzam os portais de uma Tenda não
pode criar estranhamentos. Por fim, ainda que saibamos que as arestas
e tensões não são criadas pela Umbanda e sim pelos homens que
frequentam as Casas, é nosso dever dizer: “buscai primeiro o reino
de Deus (Olorum, Oxalá, Tupã, como achar melhor) e a sua justiça,
e todas as suas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6: 33).