quarta-feira, 15 de março de 2017

Quaresma ou não Quaresma?

Demorei um pouco para trazer esta reflexão aqui. Muito provavelmente, devido ao meu tempo de maturação quando as ideias se mexem e remexem minhas emoções.
Logo assim que terminaram os “dias de Momo”, vi, em diversos grupos dos quais faço parte nas redes sociais, discussões (às vezes muito acirradas, beirando às ofensas) a respeito da quaresma na Umbanda.
As perguntas, variando em poucas estruturas, tinham o intuito de saber a opinião das pessoas sobre o que achavam de os terreiros respeitarem o período.
Como disse, li diversas considerações no mais amplo espectro de visões. Foi a partir dessas leituras que comecei meus questionamentos:
1- Todo ano a mesma história, a mesma pergunta.
2- Qual o objetivo de levantar essas discussões?
3- O que muda na prática e na crença da religião as divergências dos procedimento?
4- Há UMA lei que determine seguir ou não o calendário cristão?
Minha vontade, e não passou de vontade para não engrossar as fileiras das dissensões, foi a de responder à pergunta da seguinte maneira: “Se o seu terreiro suspende atividades durante a quaresma e você está feliz com isso, ótimo! Se o seu terreiro entende que não deve seguir essa prática e acha que deve funcionar da mesma maneira como nos demais meses do ano e você está feliz com isso, que bom para você! Em poucas palavras, seja feliz com aquilo que acredita e pratica!”
E antes que as voltas dos pensamentos cheguem à interrogação “E você, o que acha?”, apresento algumas ponderações pessoais.
Não é uma novidade para nenhum de nós que a Umbanda tem em suas raízes (com maior ou menor influência) muitos fundamentos e tradições das culturas indígena, africana e católica (por somente citar três). São as giras de caboclos, o culto aos Orixás, e, em muitas casas, os altares – congás – com imagens católicas que comprovam essas bases das expressões culturais que nos formam. Quantos umbandistas, quando em momentos de aflição e dúvidas, não lançam mão de seus pedidos aos santos católicos (e não no sentido sincrético da questão). Quantos adeptos da religião levam seus filhos para serem batizados na Igreja, realizam suas cerimônias de casamentos ou mandam rezar missas de 7º dia de falecimento de um ente querido?
Cabem duas perguntas (retóricas tão somente): Para algumas coisas, seguem os rituais e os procedimentos católicos e para outro não? É uma questão de conveniência?
Por outro lado, pensemos sobre a suspensão das atividades de um terreiro na quaresma levando em consideração as próprias religiões que tem em seu calendário este evento.
As igrejas deixam de funcionar ou deixam de realizar seus ritos completamente? Já pararam para pensar sobre o que a igreja faz ou deixa de fazer durante o período entre a Quarta-feira de cinzas e o Domingo de Páscoa? E os motivos e justificativas para isso?
Sei que não respondi diretamente o que alguns gostariam de ler/ouvir sobre o que acho do tema.

O que realmente sei é que antes de começar uma batalha de imposições e tentativas de afastar ou aproximar a Umbanda de tal ou qual matriz, devemos lembrar que nossa amada religião é plural, como plural é o berço pátrio onde ela nasceu. Uma religião que abraça e acolhe, respeita e entende a todos os que cruzam os portais de uma Tenda não pode criar estranhamentos. Por fim, ainda que saibamos que as arestas e tensões não são criadas pela Umbanda e sim pelos homens que frequentam as Casas, é nosso dever dizer: “buscai primeiro o reino de Deus (Olorum, Oxalá, Tupã, como achar melhor) e a sua justiça, e todas as suas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6: 33).