segunda-feira, 22 de abril de 2019

Um projeto que não pode acabar

A Revista do Leitor Umbandista nasceu no coração e na mente de um irmão de fé que tinha o sonho de divulgar a boa literatura umbandista sem estar vinculado a projetos político-partidários ou que buscassem auferir ganhos financeiros ou lucrativos. O sonho se tornou realidade, mas quis o destino que nosso amigo Luciano Pereira (http://blog.umbandavale.com.br/) fosse habitar o Orum.

Os colaboradores da Revista, em homenagem ao legado de Luciano e a tudo que o blog representa, decidimos manter a Revista.

No mês de abril, ainda sem estar vinculada a um site específico, conseguimos disponibilizar a revista pelo Google Drive e gostaríamos que nossos amigos leitores nos ajudassem a divulgar

https://drive.google.com/file/d/1E3YHWzHmXLWij_wrIux7GSed5HlY3WS_/view

Estamos certo de que, de onde Luciano nos vê, ele está muito feliz com nosso esforço de manter este sonho.

Obrigado a todos, em nome de nossa Umbanda, em nome dos escritores umbandistas, de nossos Orixás, Entidades de Luz, Amigos espirituais.

Axé

Saravá

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Saravá, Seu Zé

As voltas que o mundo dá são muito curiosas (ou pelo menos, aos nossos olhos assim parece). Quando comecei a trilhar os caminhos da Umbanda, uma das primeiras entidades que me disse que eu deveria estar do “lado de dentro” do terreiro foi o Seu Zé Pilintra. Naquele dia, ainda me falou que todas as vezes em que eu fosse tomar uma cerveja, não esquecesse de brindar e “chamá-lo” (ato que até hoje cumpro com alegria).

Passou o tempo, Seu Zé, com toda a razão de sua observação, tem sido meu companheiro e muito tem me ensinado sobre o mundo maior que o mundo que meus olhos conseguem ver.

Eis a razão pela qual meu texto de hoje tem como base a figura emblemática do “malandro”. Uma Linha ainda não totalmente conhecida, mas, enormemente amada.

Muitas pessoas, mesmo não sendo umbandistas, nutrem uma grande simpatia pelo moço de tenro branco, gravata vermelha, chapéu panamá e sapato bicolor.

Quando digo que “ainda não totalmente conhecida” é porque vejo que em alguns locais, em suas práticas magísticas, os Malandros (e todo o campo semântico envolvido) oscila a compreensão de o que é a Linha, como se manifesta e quem a compõe.

Somos uma religião relativamente nova, se comparada a outras mais seculares. Assim, se estamos em processo de consolidação ainda, é de se compreender os motivos de encontrarmos algumas lacunas em determinadas Linhas e conceitos.

Baseado em tudo isto e também na minha própria doutrinação como médium (e as conversas “ao pé do ouvido” que Seu Zé me proporcionou) é que me aventurei na escritura de mais um livro.

Gostaria de fazer um convite a todos os leitores, irmãos de fé e amigos, para que venham caminhar comigo nas histórias que Seu Zé do Baralho me contou, tanto de sua última encarnação, como também sobre seu processo de aprendizado “fora do corpo” até receber a missão de se tornar uma entidade de Umbanda.

No livro, pequeno, de linguagem clara e objetiva, veremos algumas das diferentes formas de compreender a Linha dos Malandro, as suas formas de atuar e como se dá a relação entre as entidades que trabalham com um médium.

Espero que gostem deste livro, pois foi escrito com muito amor e respeito por “alguém” que tanto nos ensina, com suas falas bem-humoradas, mas absolutamente sérias, sobre a vida.

Aos que se interessem, podem contar comigo, seja pelo contato por aqui no blog, por e-mail (dsfilho2016@gmail.com)ou pelo Instagram (dsfilho2016).

Muito axé para todos. Salve a Malandragem. Saravá, Seu Zé!

domingo, 14 de abril de 2019

Pensar quem somos

Se compararmos a religião de Umbanda com outras como o cristianismo, o islamismo ou o judaísmo, somos um “bebê” a engatinhar.

Sem entrarmos no mérito de algumas discussões sobre a ser a Umbanda uma religião milenar, de esferas superiores ou existente desde sempre no campo da força do Criador, fixemo-nos, em termos factuais, ao “surgimento” visível das práticas umbandistas.

Em outros textos aqui, no blog, ou em meus artigos na Revista do Leitor Umbandista (http://www.umbandavale.com.br/) já comentei sobre a necessidade de se ter uma data de “nascimento” da Umbanda para a sua legitimação. Mas o fato é que, se considerarmos os cultos das diferentes nações dos negros trazidos da África para o Brasil, a sua mescla, em um ato de sobrevivência e solidariedade, podemos dizer que a Umbanda tem algo mais de cem anos somente.

Em outras palavras, ainda estamos em formação!

Se por um lado, a sedimentação está longe de ser conhecida e reconhecida, por outro, temos a oportunidade de contribuir de forma efetiva para a sua consubstanciação.

Entretanto, toda moeda tem dois lados, não é mesmo? Vejamos:

Ser uma religião ainda em formação (como dizem alguns estudiosos e representantes religiosos) traz a chance de “desenhá-la” segundo critérios mais contemporâneos, voltados para as preocupações dos dias em que vivemos e buscando acertar incorreções das incompreensões e embates das demais expressões religiosas que insistem em nos atacar, por pura ignorância e desconhecimento de quem somos e o que praticamos.

Porém, como ainda não dispomos de uma unidade (de pensamentos), corremos o risco de uma determinada “liberdade” que esbarra com invencionices dolorosas para a nossa sedimentação.

Sendo mais direto no que digo – como sempre faço ao tomar exemplos vistos das redes sociais que acompanho –, dias desses li alguns informes sobre práticas “ditas” de Umbanda mas que, particularmente, estranham-me. Começam a informar sobre linhas de trabalho que causam espanto! Surgem dentro de alguns terreiros consultas com bruxos e feiticeiros, corsários e piratas e outros tantos que – confessando meu desconhecimento – já é difícil compreender o que é a Umbanda.

Diante de tantas dúvidas (reitero que são minhas), surgem algumas perguntas:

  • Os princípios da Umbanda não se baseiam na simplicidade?
  • Quem pode dizer quais são as linhas que compõem a religião?
  • O que valida a presença de “espíritos” até então nunca visto nos terreiros como “novos” integrantes dos trabalhos?
  • O que fazemos com o afastamento dos princípios basilares?
  • Acaso a religião precisa de mais e mais linhas para se formar?
  • Não busco respostas, contudo, gostaria que aqueles que são as vozes da religião pudessem começar algum tipo de movimento para a nossa consolidação. Estaríamos nos afastando muito da vitória que a nossa história de resistência e fé nos trouxe?

    Não há nada contra outras artes adivinhatórias, outras práticas místicas… nosso mundo é grande para abarcar tudo e todos. O que me motivou, neste alerta, é tão somente uma reflexão sobre quem somos e do que mais precisamos.

    Sem ser o “arauto da sombra”, se não iniciarmos uma proposta de diálogo para compreensão da pluralidade da religião, corremos o risco de se passarem mais cem anos e os pretos-velhos, caboclos, erês, boiadeiros e outros serem somente uma lembrança de outrora.


    Confio que chegou a hora de reavaliarmos sobre quem diz o quê e que autoridade pode ter para falar em nome de uma religião que não dispõe de dogma, mas precisa de organização.