terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Respeite a minha Umbanda porque eu respeito a sua

Mais uma vez, trago-lhes um tema sensível sobre a nossa religião que merece ter um espaço para a reflexão: os problemas intrarreligiosos. Tenho, por diversas vezes, apresentado alguns questionamentos que são frutos de conversas com irmãos de fé que labutam pela organização, respeito e legitimidade da Umbanda.

O cenário atual caracterizado por uma maior informação sobre os acontecimentos nacionais tem revelado um aumento significativo de enfrentamentos relacionados a questões de incompreensão e não aceitação da crença alheia. Basta que abramos um de nossos navegadores e coloquemos “intolerância religiosa” para vermos dados estatísticos, política para combate de crimes religiosos, solidariedade e apoio diante das atrocidades. Ainda é pouco efetivo, mas são os primeiros passos. Que não percamos a esperança e mantenhamos a crença de que o caminho é a harmonia e evolução humana!

Entretanto, o cerne de nossa “conversa” não ultrapassará os muros do terreiro. Os problemas inter-religiosos são patentes, como mencionamos acima, nas redes sociais, nos noticiários e na vida (quem de nós nunca ouviu um umbandista ou candomblecista relatar um episódio de violência sofrida?).

Retomando a estrutura de apresentar algumas discussões que tive com amigos-irmãos, no final do ano passado, participando de um bom debate sobre nossa Umbanda, vimos diversas histórias de adeptos da religião revelando uma determinada inflexibilidade com relação à prática de outras Casas. Imaginem, caros leitores, o que podemos pensar quando vemos umbandistas, cheios de razão, dizendo que a Tenda de outro umbandista não é Umbanda pois não segue os mesmos passos da Casa de quem fala? Mais ainda, se compreendemos a pluralidade da religião (pelos motivos sociais, regionais, culturais, históricos, etc.), como podemos apontar o dedo para outro irmão de fé e afirmar que para ser Umbanda tem que ser assim, assado, cozido e ensopado?

Creio que muitos estão, neste momento, entendendo o teor do texto e estão se lembrando de cenas onde a situação aconteceu.

Já mencionei, em meses anteriores, uma das minhas cautelas ao ver os “donos” da Umbanda ditando suas regras como dogmas e criticando aquilo que diverge de suas formas de cultuar o sagrado.

Longe de mim que fique parecendo que sou contrário a medidas de proteção e prevenção da religião, pois, na mesma medida das intolerâncias inter e intrarreligiosas, vemos também um processo de divulgação de fundamentos que não são de Umbanda e que alguns “sem-noção” tem afirmado pertencer a nossa fé. Os marmoteiros, os criadores de rituais estapafúrdios, isto sem falar nos “inventores” e complicadores de algo que é tão singelo, simples (sem ser simplório) que é a Umbanda.

É triste chegarmos a tais conclusões, mas a Umbanda, em expansão, precisa de cuidados. A Umbanda não é de ninguém, mas é de todos. A Umbanda não tem dogmas, porém tem fundamentos. É tempo de se pensar em formas de alinhamentos, sem enclausurar. Não podemos perder a chance do diálogo fraterno. O que não é mais possível é percebermos o que alguns estão se arvorando como controladores das bases da religião e permanecermos parados, pois corremos o sério risco de que em pouco tempo, além das diferentes formas da mesma fé, vejamos criações absurdas que venham a ferir o amor e a caridade, símbolos da religião natural de Umbanda.

Termino minhas palavras valendo-me – mais uma vez – da frase de um grande amigo espiritual que me acompanha e muito me ensina:


“A Sua casa pode ser de Umbanda, mas a Umbanda não é só a sua casa!”

Pensemos sobre isto!

Saravá, Umbanda. Axé, irmãos de fé!