Não
vou entrar no mérito da questão em termos de insuflar ainda mais as
discussões ou divergências a respeito do tema que lhes trago hoje.
Não costumo ampliar confusões e não sou adepto dos
“disse-me-disses” que muitos insistem em acirrar. Sempre achei
que a lugar algum se chega assim.
Entretanto,
o que me traz aqui, neste momento, é uma reflexão sobre um post
de um dos grupos do Facebook do qual participo.
Lançava-se
uma pergunta (sem contextualização, diga-se de passagem) sobre o
que as pessoas pensavam a respeito da nossa amada religião de
Umbanda e o sincretismo das imagens católicas nos nossos congás.
Antes
de prosseguir, faço questão de reafirmar que meu objetivo está
longe de fomentar discórdias. Só estou “pensando alto” e
tentando, na medida do possível, traduzir o que vai em meu coração
umbandista.
Pois
bem. Entendo quando alguns irmãos da caminhada buscam justificar a
questão da utilização dos santos pelo viés histórico, quando era
impossível para os negros escravos manifestarem as suas crenças
livremente e em uma espécie de “drible” antepunham um São Jorge
ou um São Sebastião para louvar a Ogum.
De
atos como estes (e de muitos outros) nossa religião foi se formando.
Faz parte das bases. Mas daí a ser taxativo, dizendo que não
precisamos mais de Jesus no centro do altar de braços abertos, de
Senhora de Santana, Nossa Senhora da Conceição, etc, parece-me um
tanto quanto inflexível e desnecessário.
A
Umbanda se caracteriza pelo respeito e pela liberdade das ações.
Liberdade tantas vezes tolhida no cativeiro e nas senzalas. Como
impedir a manifestação de nossa sacralidade contida na expressão
histórica da formação da religião? Por que afirmar que não
“devemos mais” nos esconder por detrás de um santo católico?
Estamos mesmo utilizando os santos para nos camuflarmos?
Minha
perspectiva, atualmente, diante do congá não é o de ocultamento ou
disfarçamento da fé. Confesso que não é mesmo! Quando “bato
cabeça” diante da força do altar de meu terreiro, não passa por
mim, nem de longe, a sensação – ou o pensamento – de que estou
fazendo algo proibido no que tange ao que acredito e que, por esta
razão, estou disfarçando.
E
mais: minha opinião é a de que a Umbanda é tão abrangente e
abraça a todos de forma igual que cabem, perfeitamente, em nosso
panteão Miguel Arcanjo, São Dimas, Oxossi, Yansã etc.etc.etc.
Em
suma. Para mim, não preciso colocar somente as figuras – lindas
por sinal – dos Orixás de origem africana no meu congá. A
religião que eu professo canta pontos para São João Batista e para
Xangô. Abre as portas do terreiro no dia de Santa Bárbara, São
Jorge, Obaluayê, Erês, Pombogiras e Malandros.
Se
por um lado, marcaram-nos profundamente as questões do preconceito e
as perseguições ao longo da história e hoje queremos defender a
bandeira da livre expressão na crença dos Sagrados Orixás, por
outro lado, creio eu, não podemos ser tão reticentes (ou pior,
intransigentes) sugerindo que apaguemos a beleza plural que configura
a Umbanda.
Acabo
minhas considerações diante de meu amado São Jerônimo
saudando-lhe com o arrepio de sempre que pela coluna sobe até a
minha coroa: Kaô Kabelicê, meu Pai!