domingo, 14 de abril de 2019

Pensar quem somos

Se compararmos a religião de Umbanda com outras como o cristianismo, o islamismo ou o judaísmo, somos um “bebê” a engatinhar.

Sem entrarmos no mérito de algumas discussões sobre a ser a Umbanda uma religião milenar, de esferas superiores ou existente desde sempre no campo da força do Criador, fixemo-nos, em termos factuais, ao “surgimento” visível das práticas umbandistas.

Em outros textos aqui, no blog, ou em meus artigos na Revista do Leitor Umbandista (http://www.umbandavale.com.br/) já comentei sobre a necessidade de se ter uma data de “nascimento” da Umbanda para a sua legitimação. Mas o fato é que, se considerarmos os cultos das diferentes nações dos negros trazidos da África para o Brasil, a sua mescla, em um ato de sobrevivência e solidariedade, podemos dizer que a Umbanda tem algo mais de cem anos somente.

Em outras palavras, ainda estamos em formação!

Se por um lado, a sedimentação está longe de ser conhecida e reconhecida, por outro, temos a oportunidade de contribuir de forma efetiva para a sua consubstanciação.

Entretanto, toda moeda tem dois lados, não é mesmo? Vejamos:

Ser uma religião ainda em formação (como dizem alguns estudiosos e representantes religiosos) traz a chance de “desenhá-la” segundo critérios mais contemporâneos, voltados para as preocupações dos dias em que vivemos e buscando acertar incorreções das incompreensões e embates das demais expressões religiosas que insistem em nos atacar, por pura ignorância e desconhecimento de quem somos e o que praticamos.

Porém, como ainda não dispomos de uma unidade (de pensamentos), corremos o risco de uma determinada “liberdade” que esbarra com invencionices dolorosas para a nossa sedimentação.

Sendo mais direto no que digo – como sempre faço ao tomar exemplos vistos das redes sociais que acompanho –, dias desses li alguns informes sobre práticas “ditas” de Umbanda mas que, particularmente, estranham-me. Começam a informar sobre linhas de trabalho que causam espanto! Surgem dentro de alguns terreiros consultas com bruxos e feiticeiros, corsários e piratas e outros tantos que – confessando meu desconhecimento – já é difícil compreender o que é a Umbanda.

Diante de tantas dúvidas (reitero que são minhas), surgem algumas perguntas:

  • Os princípios da Umbanda não se baseiam na simplicidade?
  • Quem pode dizer quais são as linhas que compõem a religião?
  • O que valida a presença de “espíritos” até então nunca visto nos terreiros como “novos” integrantes dos trabalhos?
  • O que fazemos com o afastamento dos princípios basilares?
  • Acaso a religião precisa de mais e mais linhas para se formar?
  • Não busco respostas, contudo, gostaria que aqueles que são as vozes da religião pudessem começar algum tipo de movimento para a nossa consolidação. Estaríamos nos afastando muito da vitória que a nossa história de resistência e fé nos trouxe?

    Não há nada contra outras artes adivinhatórias, outras práticas místicas… nosso mundo é grande para abarcar tudo e todos. O que me motivou, neste alerta, é tão somente uma reflexão sobre quem somos e do que mais precisamos.

    Sem ser o “arauto da sombra”, se não iniciarmos uma proposta de diálogo para compreensão da pluralidade da religião, corremos o risco de se passarem mais cem anos e os pretos-velhos, caboclos, erês, boiadeiros e outros serem somente uma lembrança de outrora.


    Confio que chegou a hora de reavaliarmos sobre quem diz o quê e que autoridade pode ter para falar em nome de uma religião que não dispõe de dogma, mas precisa de organização.

    2 comentários:

    1. Uma reflexão pertinente ao momento vivenciado

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    2. Precisamos estar sempre atentos, irmão, pois de pedras já bastam as que nos atiram , não é verdade? Obrigado por sua participação .

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