sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Médium isento ou passivo?

Estes dias, estava relendo um livro sobre concentração mental para me aparelhar de mais informações que organizassem uma palestra que fui convidado a fazer em um Centro Espírita. O foco da minha participação no evento, com os médiuns da Casa, seria sobre os benefícios que a concentração traz para o trabalho espiritual.

E como “coincidências não existem”, neste mesmo período de preparo da palestra, uma pessoa me procurou para conversar sobre algumas dúvidas com respeito a responsabilidade de “veicular” as mensagens das entidades para os consulentes, em uma gira de Umbanda. Na conversa, tentei abordar o tema, tomando como referência a linha temporal da história da Umbanda. Meu mote foi o de que “antigamente, tinha-se a ideia de que quanto mais inconsciente era o médium, melhor era o acoplamento da entidade”.

Busquei mostrar ao meu interlocutor que aquela visão eximia o sensitivo de muitas coisas e, inclusive, “aliviava-lhe” o peso de qualquer encargo. A pergunta que eu fiz – e faço questão de manter – é: “então, qual o grau de aprendizado que temos no trabalho espiritual se, para qualquer coisa (sejam acertos ou falhas), são só “eles” os responsáveis?

Naquele diálogo, puxei da memória um episódio da minha caminhada espiritual que jamais esqueci.

Certo dia, na primeira casa onde trabalhei por mais de 30 anos, havia terminado uma fase dos atendimentos. Lá, trabalhávamos, principalmente, com o campo mental. O contato com o plano sutil se dava (pelo menos comigo) através das imagens que me eram projetadas na mente (clarividência). Quando demos por encerrada a atividade – sempre trabalhávamos em triângulo – eu disse para os outros dois “instrumentos” que estavam comigo: “Ufa! Hoje foi cansativo”. Referia-me a termos atendido a umas 10 pessoas naquela tarde de sábado. Imediatamente, sem me dar chances para colocar um ponto final na minha observação, ouvi, retumbante, em minha cabeça: “Como cansativo?”. Avisei aos meus irmãos que estavam comigo o que havia escutado e pedi que sentássemos para ouvir a mensagem que me estavam transmitindo.

Meu amado mentor, responsável sempre pelas minhas irradiações, manifestou-se e nos disse:

Cada pessoa que se sentou diante de vocês, no dia de hoje, escutou uma orientação para a vida. Vocês ouviram 10. Então, eu lhes pergunto: quem foram os mais agraciados com as revelações divinas? Eles ou vocês? Como, desta maneira, podem reclamar de cansaço, se receberam tantas dádivas? É bem verdade que nos valemos de seus campos energéticos para transmitirmos nossas mensagens, mas se há cansaço, sem querer apontar erros, a distração na perda de energia é de vocês. Aprendam a controlar seus corpos e assim poderão aprender e apreender muito mais, sairão revigorados – e não esgotados –, podendo, inclusive, agradecer as benesses que Deus lhes concede.

Terminado o ligeiro “puxão de orelha”, agradecemos imensamente mais um grande aprendizado e, daquele dia em diante, sem reclamar mais da quantidade, observamos a qualidade do que nos era ofertado pela Graça do Pai.

Encerro minha reflexão com uma pergunta para que pensem (como eu sempre me questiono): De que serve ter uma excelente entidade que dá lindas, valiosas e “certeiras” orientações, se nós como médiuns não aprendemos com elas?

Dizer “eu não sei de nada, foi ‘ele’ (ou ‘ela’) que falou, que mandou fazer, etc. nos assegura evolução? E o esforço de superação dos nossos limites e a dedicação ao crescimento espiritual para os quais encarnamos?

Não sei se a pessoa com quem conversei conseguiu aquilatar o valor do que hoje temos a nossa disposição como religiosos, mas, a questão que cala fundo em minha alma é que a relação entre a entidade e o médium vai além do atendimento em uma gira, é uma oportunidade ímpar de “por a serviço de todos” a união do plano espiritual e o melhor de nós mesmos como seres verdadeiramente humanos.

Saravá, Umbanda.

4 comentários:

  1. Gostei da sua mensagem
    Glaucio de Omulu axé
    Rádio Web Pai Joaquim de Arunda e Tenda Pai Joaquim de Arunda
    Cidade Santo Antônio de Pádua RJ

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  2. Sua benção, Pai Glauco. Fico feliz que tenha gostado do texto. Axé.

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  3. Sim irmão é a mais pura verdade! Temos muito a aprender com nossos mestres espirituais. A cada atendimento uma lição que se no momento parece não ser
    para nós no futuro próximo ou distante a situação que aquela lição cabe se apresentará e se tivermos absorvido o ensinamento facilmente saberemos agir. Pena que a maioria dos médiuns com o ego inflamado acredita que as lições são apenas para o consulente. Parabéns por este espaço de luz! Axé

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  4. Grato pelas palavras e o carinho, irmã. Muito axé em seu Caminhar

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