quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Orixás e sexualidade

Perdoem-me se estou ficando velho e/ou chato. Mas vejo coisas, neste mundo de meu Deus, que me espantam ao mesmo tempo em que me indignam. Questiono-me, diante das coisas que aprendi sobre a religião e me sinto perdido, achando que ou estou anacrônico demais, ou as pessoas estão perdendo o tino. Se é esta segunda opção a que ocorre, já passou da hora de haver um movimento que contenha os absurdos ligados à Umbanda.

Chegou ao meu conhecimento, pelas redes sociais, um post divulgando uma festa com base nos Orixás. Até aqui, nada de mais! Quantos terreiros promovem festas em nome de seus Pais e Mães, patronos de suas Casas? Entretanto, e para meu espanto (a rima é proposital), será uma festa em homenagem aos orixás gays.

Antes de qualquer acusação infundada sobre intolerância ou preconceito, o que aqui exponho não está ligado a nenhuma orientação sexual. Sabemos – e é notório – que de todas as expressões religiosas, as que têm influência das matrizes africanas somos as mais abertas a qualquer tipo de posição ideológica, étnica ou sexual. Não se trata disto. A reflexão é sobre a confusão que se faz (ou estão fazendo) com relação às lendas que antropomorfizam os orixás e o que eles são em verdade, no plano espiritual.

Para que fique claro, temos que entender que Orixá não tem vínculo sexual, Orixá não tem relações carnais. Resumindo, Orixá não é de carne e osso, logo não tem relação sexual hetero, homo, bi, ou qualquer outra forma de troca de energia através de sexo.

Reforçando o esclarecimento sobre a ideia de orixá compreendido como ser humano e orixá como qualidade do Divino Superior, tomemos como exemplo outra religião. Os católicos referenciam a santidade de alguns homens e mulheres que, durante seus períodos na Terra, tiveram conduta ilibada a partir do momento em que se voltaram para Deus. São exemplos de conduta religiosa e devem ser seguidos. Isto são histórias contadas para mostrar aos fiéis que é possível ser “santo” em vida e seguir os ensinamentos do Mestre Jesus.

Da mesma maneira, lendas africanas nos são contadas, onde os personagens são os orixás como seres humanos com suas qualidades, defeitos, virtudes e limitações (todas inerentes ao viver na Terra).

Um dos motivos que leva as religiões a transmitirem narrativas, contos, fábulas (muitas com base reais, outras não) é o fato de servir de modelo de conduta e superação das dificuldades e obstáculos da vida. A redenção e salvação são os ingredientes que servem de base às histórias dos “santos”.

Compreendidas tais estruturas de ensinamentos, resta-nos dizer que a confusão entre uma conduta mundana e o plano espiritual se deve a interesses que fogem à doutrina religiosa. Ou separamos as questões, por força da lógica e da inteligência, que orixá não tem comportamento de gente ou corremos o risco de macular os fundamentos que sustentam nossas religiões.

Não se trata aqui de apologia de guerra contra os que lançam mão de informações truncadas (e equivocadas) sobre a força espiritual em detrimento de quererem dar vazão aos seus desejos mundanos. Façam festas específicas para públicos específicos (apesar de eu achar que isto reforça a segregação, mas isto é outra história), mas não passem conceitos errados para leigos ou neófitos. Isto é perigoso e pode “pintar” um quadro deturpado da realidade.

Se as religiões que possuem influência de matrizes africanas já sofremos preconceito e violências de toda ordem, imaginem quando uma notícia de festa para orixá gay chega “aos ouvidos” dos que estão procurando um motivo para nos destratarem?

Reafirmo (pelo que aprendi na estrada do meu percurso religioso) que Orixá não tem denominação ligada à atributos humanos. Orixá é a manifestação do Trono de Deus, é Força da Natureza e coroa de nosso Ori, é luz em nosso caminhar. Assim, termino meu momento de reflexão pedindo aos que deitarem seus olhos neste texto: respeitemos a ancestralidade que nos trouxe até aqui e há de seguir guiando-nos até os últimos dias de nosso viver. Não confundamos nossos desejos com a beleza do panteão divinal que sustenta nossa Umbanda!

Muito axé

Nosso Saravá

11 comentários:

  1. O que está ocorrendo e é lamentável, é que pessoas não Umbandistas, estão infiltradas na religião, e querem fazer valer suas verdades. se a pessoa é gay é pessoal dela, a umbanda não tem nada haver com isso, e é lamentável que é uma minoria, porém que pela insensatez, faz muito barulho, até por que uma da máxima da negatividade é se multiplicar com muita velocidade querendo tirar a beleza do que é positivo. Isso não é Umbanda!

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    1. Corroboro das suas ideias, irmão. Nosso axé e nossa reverência.

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  2. Para que fique claro, temos que entender que Orixá não tem vínculo sexual, Orixá não tem relações carnais. Resumindo, Orixá não é de carne e osso, logo não tem relação sexual hetero, homo, bi, ou qualquer outra forma de troca de energia através de sexo.

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  3. Entendo que religião está acima de opção sexual, podemos falar de orixás do ponto de vista assexuado, mas envolver questões carnais( o sexo e uma questão carnal) entendo que vai da vaidade dos envolvidos

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    1. Perfeito, irmão (ou irmã, não sei). A questão que distorce a religião é o cunho pessoal (c suas frustrações, necessidades, desejos e egoísmo). São poucos, mas acabam por colaborar com uma visão errada. Nossa missão é dizer ao mundo o que , em verdade, somos. Grato

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  4. Realmente, buscando nos Dogmas do Candomblé, mormente na Nação Ketu, cujas divindades são os Orixás, não vemos um traço sequer, direcionando diversidade sexual ás mesmas divindades . Infelizmente, estamos assistindo muita confusão e equívocos na abordagem sexual envolvendo principalmente dirigentes sacerdotais. Isso está merecendo uma atenção fiscalizadora. Pelo que fiquei sabendo, a FENACAB, sediada em Salvador, já está providenciando essa iniciativa.

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    1. Que nossos Orixás iluminem estes que buscam tomar providências. É mais do que tempo... é hora, é hora!!! Axé!

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  5. Para que fique claro, temos que entender que Orixá não tem vínculo sexual, Orixá não tem relações carnais. Resumindo, Orixá não é de carne e osso, logo não tem relação sexual hetero, homo, bi, ou qualquer outra forma de troca de energia através de sexo.

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    1. Para que fique claro, temos que entender que Orixá não tem vínculo sexual, Orixá não tem relações carnais. Resumindo, Orixá não é de carne e osso, logo não tem relação sexual hetero, homo, bi, ou qualquer outra forma de troca de energia através de sexo.

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  6. Muito adequada sua colocação, Luz em tempos de sombras...

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