Dê
um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia.
Ensine-o a pescar, e você o estará alimentando pelo resto da vida.
Provérbio
Chinês.
Em
tempos de terceirização dos serviços, as religiões –
infelizmente – não escaparam. Vemos com tristeza que muitos
sensitivos, agraciados pelos dons divino das percepções, colaboram
para que outros irmãos permaneçam em condições de pedintes e
acomodados. Por pensarmos que as razões são diversas, pretendemos
aqui somente abordar as que nos parecem mais graves.
Não
é desconhecido para nós que existem “serviços” de atendimentos
espirituais das formas mais diferentes através das ferramentas
tecnológicas que granjeiam pela rede mundial de computadores. Até
aí, o mundo cibernético permite liberdades, entretanto, o sério da
questão é: existem pessoas que acreditam nessas “verdades” e
colocam (por desespero, solidão, falta de esclarecimento espiritual,
etc.) suas vidas e decisões nas orientações ali encontradas. Quem
não ouviu dizer de leitura de tarô por um processo randômico de
seleção de cartas? Ou ainda (se não conheceram, conto-lhes), o que
dizer das congregações que se prontificam a “acender” velas
virtuais para os seus pedidos de socorro?
Estas
práticas não são tão modernas, elas são modernizadas pela
tecnologia. Digo isto baseando-me em minha própria experiência
sensitiva. Muitas vezes, na tentativa de ajudar àqueles mais
aflitos, disponibilizei meus contatos (fora do templo onde
trabalhava) para que, em uma emergência, pudesse colaborar. Mas a
medida e o controle do acesso é uma linha muito tênue e estabelecer
o grau de necessidade também. Estes fatos fizeram com que algumas
pessoas começassem a me telefonar (em qualquer hora do dia ou da
noite), enviassem e-mails e mensagens escritas nos celulares, sempre
com uma “consulta” a algo “muito sério” (segundo o conceito
do pedinte).
Sempre
orientado por meus mentores, comecei a “ouvir” deles que deveria
ter cuidado com “tele-atendimento” e que fazia parte do meu
aprendizado como médium saber dosar e ensinar aos irmãos como
crescerem como seres e como conseguirem estabelecer a forma direta de
contato entre eles e a divindade.
Meus
questionamentos residem em pensar sobre quais os motivos que levam os
sensitivos a colaborarem com a passividade dos “aflitos”. Quando
se tem um canal aberto entre o sensitivo e o “consulente”, será
que estamos realmente ajudando-o ou repetimos a antiga história
contida no provérbio chinês que abre a nossa reflexão?
Quantas
vezes, em conversa franca e fraterna, disse às pessoas que pediam
ajuda que fossem ao terreiro para conversar com o Preto Velho. Na
grande maioria das vezes, as respostas são muito parecidas: falta de
tempo, empecilhos, dificuldades de ir, etc. Será mesmo? Ou será que
é mais cômodo pedir ajuda por celular ou e-mail e receber resposta?
Não
estou sendo, em nada, exagerado, por uma simples razão: vivencio até
os dias de hoje tais situações. Entender entre uma situação
emergencial e um comodismo (alimentado pelo próprio médium) reside
o aprendizado.
Uma
sugestão para aqueles que passam pelas mesmas situações.
Experimentem dizer para alguém que busca respostas prontas: “Vai
lá no templo para uma conversa” e comecem a colecionar as
respostas.
Tudo
isso me leva a concluir, ainda que não de forma taxativa ou
definitiva, que somos os responsáveis pela colaboração do estado
de pedinte dos irmãos. Questiono-me: será que há algo de uma
vaidade velada que nos diz que somos bons médiuns e é por isso que
as pessoas confiam em nós e temos “o dever” de atender? Será
que nos perguntamos se aquele que acorre a nós está mesmo disposto
a mudar sua condição diante da vida ou está acomodado com “tenho
um pai de santo de aluguel” para resolver os meus “problemas”,
basta falar com ele.
Reitero:
não estou sendo duro. Estou refletindo sobre toda a finalidade da
religião que é ligar a criatura ao Criador. Até onde não estamos
nos deixando levar?
Espero,
sinceramente, que eu não recaia nas armadilhas do ego que, de forma
muito esperta, disfarça-se das desculpas da solidariedade e me fazem
ser menos irmão que ajuda a crescer do que aquele que dá as
respostas. E como médium, que resposta onipotente posso dar se tão
humano sou a ponto de me equivocar na real medida do auxílio?
Considere
a sugestão de começar a pedir para as pessoas irem ao templo, da
mesma forma que você vai, dizendo-lhes o que justamente você vai lá
buscar.
Esforço,
dedicação e convivência são grandes mestres das congregações
religiosas. Não prive os demais desta oportunidade.
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