quarta-feira, 20 de junho de 2018

Pai de santo de aluguel


Dê um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar, e você o estará alimentando pelo resto da vida.
                                               Provérbio Chinês.

Em tempos de terceirização dos serviços, as religiões – infelizmente – não escaparam. Vemos com tristeza que muitos sensitivos, agraciados pelos dons divino das percepções, colaboram para que outros irmãos permaneçam em condições de pedintes e acomodados. Por pensarmos que as razões são diversas, pretendemos aqui somente abordar as que nos parecem mais graves.
Não é desconhecido para nós que existem “serviços” de atendimentos espirituais das formas mais diferentes através das ferramentas tecnológicas que granjeiam pela rede mundial de computadores. Até aí, o mundo cibernético permite liberdades, entretanto, o sério da questão é: existem pessoas que acreditam nessas “verdades” e colocam (por desespero, solidão, falta de esclarecimento espiritual, etc.) suas vidas e decisões nas orientações ali encontradas. Quem não ouviu dizer de leitura de tarô por um processo randômico de seleção de cartas? Ou ainda (se não conheceram, conto-lhes), o que dizer das congregações que se prontificam a “acender” velas virtuais para os seus pedidos de socorro?
Estas práticas não são tão modernas, elas são modernizadas pela tecnologia. Digo isto baseando-me em minha própria experiência sensitiva. Muitas vezes, na tentativa de ajudar àqueles mais aflitos, disponibilizei meus contatos (fora do templo onde trabalhava) para que, em uma emergência, pudesse colaborar. Mas a medida e o controle do acesso é uma linha muito tênue e estabelecer o grau de necessidade também. Estes fatos fizeram com que algumas pessoas começassem a me telefonar (em qualquer hora do dia ou da noite), enviassem e-mails e mensagens escritas nos celulares, sempre com uma “consulta” a algo “muito sério” (segundo o conceito do pedinte).
Sempre orientado por meus mentores, comecei a “ouvir” deles que deveria ter cuidado com “tele-atendimento” e que fazia parte do meu aprendizado como médium saber dosar e ensinar aos irmãos como crescerem como seres e como conseguirem estabelecer a forma direta de contato entre eles e a divindade.
Meus questionamentos residem em pensar sobre quais os motivos que levam os sensitivos a colaborarem com a passividade dos “aflitos”. Quando se tem um canal aberto entre o sensitivo e o “consulente”, será que estamos realmente ajudando-o ou repetimos a antiga história contida no provérbio chinês que abre a nossa reflexão?
Quantas vezes, em conversa franca e fraterna, disse às pessoas que pediam ajuda que fossem ao terreiro para conversar com o Preto Velho. Na grande maioria das vezes, as respostas são muito parecidas: falta de tempo, empecilhos, dificuldades de ir, etc. Será mesmo? Ou será que é mais cômodo pedir ajuda por celular ou e-mail e receber resposta?
Não estou sendo, em nada, exagerado, por uma simples razão: vivencio até os dias de hoje tais situações. Entender entre uma situação emergencial e um comodismo (alimentado pelo próprio médium) reside o aprendizado.
Uma sugestão para aqueles que passam pelas mesmas situações. Experimentem dizer para alguém que busca respostas prontas: “Vai lá no templo para uma conversa” e comecem a colecionar as respostas.
Tudo isso me leva a concluir, ainda que não de forma taxativa ou definitiva, que somos os responsáveis pela colaboração do estado de pedinte dos irmãos. Questiono-me: será que há algo de uma vaidade velada que nos diz que somos bons médiuns e é por isso que as pessoas confiam em nós e temos “o dever” de atender? Será que nos perguntamos se aquele que acorre a nós está mesmo disposto a mudar sua condição diante da vida ou está acomodado com “tenho um pai de santo de aluguel” para resolver os meus “problemas”, basta falar com ele.
Reitero: não estou sendo duro. Estou refletindo sobre toda a finalidade da religião que é ligar a criatura ao Criador. Até onde não estamos nos deixando levar?
Espero, sinceramente, que eu não recaia nas armadilhas do ego que, de forma muito esperta, disfarça-se das desculpas da solidariedade e me fazem ser menos irmão que ajuda a crescer do que aquele que dá as respostas. E como médium, que resposta onipotente posso dar se tão humano sou a ponto de me equivocar na real medida do auxílio?
Considere a sugestão de começar a pedir para as pessoas irem ao templo, da mesma forma que você vai, dizendo-lhes o que justamente você vai lá buscar.
Esforço, dedicação e convivência são grandes mestres das congregações religiosas. Não prive os demais desta oportunidade.

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