sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Santos e Orixás

Não vou entrar no mérito da questão em termos de insuflar ainda mais as discussões ou divergências a respeito do tema que lhes trago hoje. Não costumo ampliar confusões e não sou adepto dos “disse-me-disses” que muitos insistem em acirrar. Sempre achei que a lugar algum se chega assim.
Entretanto, o que me traz aqui, neste momento, é uma reflexão sobre um post de um dos grupos do Facebook do qual participo.
Lançava-se uma pergunta (sem contextualização, diga-se de passagem) sobre o que as pessoas pensavam a respeito da nossa amada religião de Umbanda e o sincretismo das imagens católicas nos nossos congás.
Antes de prosseguir, faço questão de reafirmar que meu objetivo está longe de fomentar discórdias. Só estou “pensando alto” e tentando, na medida do possível, traduzir o que vai em meu coração umbandista.
Pois bem. Entendo quando alguns irmãos da caminhada buscam justificar a questão da utilização dos santos pelo viés histórico, quando era impossível para os negros escravos manifestarem as suas crenças livremente e em uma espécie de “drible” antepunham um São Jorge ou um São Sebastião para louvar a Ogum.
De atos como estes (e de muitos outros) nossa religião foi se formando. Faz parte das bases. Mas daí a ser taxativo, dizendo que não precisamos mais de Jesus no centro do altar de braços abertos, de Senhora de Santana, Nossa Senhora da Conceição, etc, parece-me um tanto quanto inflexível e desnecessário.
A Umbanda se caracteriza pelo respeito e pela liberdade das ações. Liberdade tantas vezes tolhida no cativeiro e nas senzalas. Como impedir a manifestação de nossa sacralidade contida na expressão histórica da formação da religião? Por que afirmar que não “devemos mais” nos esconder por detrás de um santo católico? Estamos mesmo utilizando os santos para nos camuflarmos?
Minha perspectiva, atualmente, diante do congá não é o de ocultamento ou disfarçamento da fé. Confesso que não é mesmo! Quando “bato cabeça” diante da força do altar de meu terreiro, não passa por mim, nem de longe, a sensação – ou o pensamento – de que estou fazendo algo proibido no que tange ao que acredito e que, por esta razão, estou disfarçando.
E mais: minha opinião é a de que a Umbanda é tão abrangente e abraça a todos de forma igual que cabem, perfeitamente, em nosso panteão Miguel Arcanjo, São Dimas, Oxossi, Yansã etc.etc.etc.
Em suma. Para mim, não preciso colocar somente as figuras – lindas por sinal – dos Orixás de origem africana no meu congá. A religião que eu professo canta pontos para São João Batista e para Xangô. Abre as portas do terreiro no dia de Santa Bárbara, São Jorge, Obaluayê, Erês, Pombogiras e Malandros.
Se por um lado, marcaram-nos profundamente as questões do preconceito e as perseguições ao longo da história e hoje queremos defender a bandeira da livre expressão na crença dos Sagrados Orixás, por outro lado, creio eu, não podemos ser tão reticentes (ou pior, intransigentes) sugerindo que apaguemos a beleza plural que configura a Umbanda.

Acabo minhas considerações diante de meu amado São Jerônimo saudando-lhe com o arrepio de sempre que pela coluna sobe até a minha coroa: Kaô Kabelicê, meu Pai!

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Bem ouvir, bem falar e bem olhar

 Ainda que tenhamos tantos despreparados e/ou desinformados, vemos surgir, desde o final do século passado, um interesse grande por nossa amada religião de Umbanda. Tenho, na medida do possível, acompanhado os eventos relacionados às religiões de matrizes africanas e vejo, com excelentes olhos, como, pouco a pouco, vamos angariando mais admiradores (ou pelo menos, mais pessoas tendo a oportunidade de aprender sobre nossas práticas, fundamentos e preceitos).
São palestras, lançamentos de livros, peças teatrais, eventos públicos e o mais variado tipo de divulgação.
Ontem, por exemplo, fui assistir “Exu – a luz no caminho”, com a Companhia Teatral Meraki. Tema difícil e denso, ao mesmo tempo que fascinante e profundo que nos faz vibrar na alma a exaltação da vida! São iniciativas como estas que buscam desmitificar o “pré-conceito” do peso que a História jogou em nossas costas com relação não só à “Esquerda” como a todas as manifestações espirituais vinculadas aos Orixás e Entidades de Luz que trabalham nas Tendas e Terreiros.
Permitam-me um jogo de imagens para prosseguir com minhas reflexões. Todos conhecemos os famosos três macaquinhos, não é mesmo? Então: com relação a tudo que estou dizendo, persistem ainda os que abrem a boca (macaquinho 1) para falar sobre o que desconhecem, tudo isso porque ouviram dizer (macaquinho 2), sem pelo menos tentar abrir os olhos (macaquinho 3) para conhecer.
Quem de nós nunca ouviu um irmão da caminhada falando impropérios sobre a religião, sem ao menos ter certeza do que fala? Sem contar com os radicais – estes nem mencionamos – que tão obtusos são incapazes de compreender qualquer coisa para além do seu “mundinho”!
Outro dia, pasmem, duas pessoas conversavam. Uma era umbandista e a outra era neopentecostal. O diálogo se tornou surreal (ou superreal) quando o umbandista mostrava para a pessoa que professa a fé através da Escritura Sagrada coisas que ela desconhecia do único documento que, teoricamente, tinha que conhecer: a Bíblia.

Sendo assim, nossa missão está no terreiro sim. Nosso aprendizado está no convívio e contato com os entes de luz que nos brindam com suas vibrações e seus ensinamentos. Nossa fé cresce pela prática e dedicação. Entretanto, não devemos nos esquecer de que também é nossa tarefa difundir com conhecimentos e fundamentos a nossa religião. Outros que ignoram ou desconhecem só poderão tecer opiniões diante do que lhes é passado. Se vemos, inclusive, dentro de casas de nossas coirmãs (e dentro de nossos terreiros de Umbanda mesmo), divergências e polêmicas que geram brigas e intrigas, como podemos exigir que os demais nos respeitem? Pensemos nisto quando começarmos a criar problemas ou apresentar embates. Façamos a nossa parte, deixemos que a vida se torne mais leve e livremo-nos do mal que corrói a alma. Nossa voz se perpetuará no ritmo dos atabaques, na ginga dos versos dos pontos e na Força de nossos Orixás. Saravá, Umbanda, saravá!

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Cada coisa em seu lugar

As palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas, ali, no momento de fundação da religião de Umbanda, foram muito claras: a umbanda é acolhimento, tanto no plano físico, quanto no plano espiritual. Todos que acorrem aos terreiros devem ser bem-vindos.
Obviamente que entidade não quis dizer que não haveria regras e que cada um faria o que bem entendesse! A “Umbanda tem fundamento, é preciso preparar”, como entoamos no momento de começar uma sessão.
Também convém ressaltar que, em nenhum momento, o Caboclo sugeriu que seria uma religião de convencimento ou arregimentação. A Umbanda não aprisiona pelo medo e não é grilhão. É restauradora como o grito de liberdade das senzalas das almas amarguradas e, tomando novamente a voz do Seu Sete Encruzilhadas, veio para “perdurar até o final dos séculos”.
Todos que quiserem podem ir a uma casa umbandista buscar consolo e conforto. Todos que no chão sagrado pisam são recebidos e atendidos na medida do merecimento e da fé com que para lá se dirigem. Mas nem todos os que ali estão em uma gira ou festa são umbandistas e não significa que devem seguir nossos preceitos.
Umbandistas, devemos entender tal diferença para que não nos afastemos dos princípios que norteiam nossa religião. Não mantemos ninguém a partir de segredos não revelados. O que nos solicita a espiritualidade é que mostremos nossa amada religião através dos Mistérios Sagrados e não do misterioso mistificado. Para tanto, devemos, antes de mais anda, conhecer a religião e representá-la em nossos atos. Pois também quase nenhuma valia tem muito saber e pouco praticar.
Que tenhamos clara a ideia de que a Umbanda recebe a todos de braços abertos, mas jamais dirá a alguém que a salvação está na conversão.


Deixemos que o som de um atabaque ou a vibração de um Preto Velho em terra arrebate o coração dos homens. Façamos a nossa parte que é sermos o exemplo vivo de tudo que esta linda religião nos ensina todos os dias.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Feliz, mas não eufórico

Alguns dias atrás, andava pelas ruas do meu bairro e comecei a reparar, ao redor de um raio de uns 500 metros, mais ou menos, de onde moro, a quantidade de Centros de Umbanda – e sua variação de nomenclaturas dadas. Sem exageros, contei oito casas.
Falava sobre esse fato com alguns irmãos de fé e comentava sobre o aumento de Casas que estão abrindo, pelo menos no Rio de Janeiro e é sobre este tema que aqui trago algumas reflexões.
Alguns estudiosos dos temas das religiões de matrizes africanas, como é a nossa Umbanda, muitas vezes, foram enfáticos ao afirmarem (e é de conhecimento geral) que, durante muito tempo, tais religiões sofreram – e sofrem – perseguições e críticas veementes por parte de alguns desconhecedores das estruturas, da história e das raízes e das práticas religiosas das Casas que tem por fundamento o culto aos Orixás.
Como consequência, muitos terreiros, ilês e tendas foram fechados por não suportarem repressão e rebeldia.
De um tempo para cá, temos percebido uma “retomada” do movimento de expansão (ou será exposição?) das religiões afro-brasileiras. Os fatores são muitos, entre eles o incremento de publicações ligadas aos temas, bem como maior divulgação da história, fundamentos e práticas através da internet. Não é raro encontrar sites, redes sociais e blogs falando sobre Umbanda, oferecendo cursos, apresentando suas Casa e convidando para as cerimônias, festejos e giras em geral.
Se por um lado tais mídias podem funcionar como desmitificadores, propagadores e reveladores, por outro, podem oferecer o perigo da não-veracidade das informações por parte dos que buscam ler.
Toda e qualquer religião apresenta estes dois lados da moeda. Não nos enganemos! Há os que devotam com seriedade os seus ofícios e são possuidores de conhecimento fundamentado e, por tal razão, são verdadeiros representantes das doutrinas que professam. Entretanto... (ah, esse entretanto…), existem os aventureiros, os charlatões e os aproveitadores das dores alheias.
Não nos cabe julgá-los, pois certamente responderão diante de Deus-Pai sobre ações. Mas, retomando a observação do início de minha reflexão sobre a quantidade de terreiros abrindo, fica o alerta. Feliz por ver que podemos, em pleno século XXI, continuar nosso caminho religioso, mas não eufórico (pois a euforia tira o estado da razão) para ter o discernimento de perceber a diferença do que é sério e fundado daquilo que é engodo.
Ainda há um longo percurso, mas com a nossa fé em Pai Oxalá e sua bandeira, havemos de ter mais e mais vitórias.

Axé para todos, sob a Luz e Proteção Divina.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Nosso objetivo

Aqui não queremos apresentar doutrina, nem dizer que somos a verdade. Não vamos polemizar e muito menos criar tensões entre opiniões.
Queremos aqui o espaço de compartilhar com todos os irmãos de fé um pouco da nossa vivência e algumas reflexões que a vida nos proporciona.
Damos as boas vindas a todos aqueles que em paz acabaram chegando a este blog e, por curiosidade ou por por busca mesmo, lerão nossos "rabiscos". O que podemos garantir é que tudo será de coração.
Pedindo a Pai Oxalá, que em sua infinita bondade e sabedoria, ilumine a todos nós.
Saravá nossa Amada Umbanda.
Axé p'rá todos.